Não é difícil compreender por que a diretora Rachel Daisy Ellis decidiu investigar os motéis no seu primeiro longa-metragem, EROS. Quer você nunca tenha pisado em um estabelecimento como este ou seja frequentador recorrente, fato é que estes são locais, no mínimo, intrigantes. Se por um lado, como instituição de sexo mais importante do pais, os motéis integram a paisagem urbana de todo o Brasil, com seus letreiros luminosos e entradas chamativas, por outro há um genuíno mistério sobre o que acontece ali e quem são as pessoas que ocupam suas suítes.
Ciente da riqueza deste tema, Ellis viu em EROS uma oportunidade de explorar e provocar uma reflexão sobre o que é o motel. Curiosamente, a forma de conduzir o público por sua pesquisa veio mais tarde, quando ela mesma teve uma noite frustrada em um destes quartos, enquanto ouvia as pessoas das suítes vizinhas e imaginava as histórias por trás daqueles gemidos. Tendo escutado depoimentos de frequentadores de motel de vários cantos do país, Ellis convidou alguns deles a se filmarem durante uma das suas noites. O resultado está no documentário: uma costura de experiências e visões que, por mais distintas que sejam, compartilham entre si olhares profundos sobre as relações de intimidade e afeto.
Desta forma, a intimidade que EROS registra não se resume a sexo: há prazer e fantasias sim, mas há também amor, solidão, liberdade, confiança e introspecção. Quer dizer, entre as quatro paredes de um quarto de motel, existe uma vulnerabilidade reveladora muito rica – não só para entender os indivíduos retratados, mas a própria relação do Brasil com estes estabelecimentos tão tradicionais.