A peça TYBYRA – Uma Tragédia Indígena Brasileira, do artista potyguara Juão Nyn, faz sua última semana de apresentações no Sesc Avenida Paulista até o dia 6 de abril. A narrativa conta o primeiro caso real de LGBTfobia no Brasil, ocorrido entre 1613 e 1614, quando um indígena tupinambá foi morto por soldados franceses, preso à boca de um canhão, após ser acusado de sodomia. Com idealização, dramaturgia e atuação do próprio Nyn, direção artística de Renato Carrera e trilha sonora original de Clara Potiguara, o texto, lançado em 2020 pela editora Selo do Burro, ganhou os palcos por meio do edital FUNARTE Retomada 2023.
Ao longo da temporada, o público foi convidado a levar uma pena para criar um manto de forma coletiva. Ao final da peça, ele fica pendurado no cenário para que o público possa colaborar com sua construção.
TYBYRA – Uma Tragédia Indígena Brasileira
A história do indígena foi registrada no livro “Viagem ao Norte do Brasil – Feita nos anos de 1613 a 1614”, de Frei Yves D’Évreux. Transmitida oralmente em diversos territórios indígenas, foi o antropólogo e ativista LGBT Luiz Mott quem o nomeou Tybyra, termo derivado de “tebiró”, que significa “homossexual passivo”.
O dramaturgo Juão Nyn relata que, ao descobrir essa história, sentiu a necessidade urgente de criar uma obra a partir dela. Sua pesquisa revelou detalhes ainda mais chocantes, como o fato de a identidade do indígena assassinado ser desconhecida, enquanto o nome do responsável por acender o canhão, Caruatapirã, foi registrado.
Diante disso, Nyn decidiu adicionar uma camada narrativa à peça, transformando o algoz em irmão de Tybyra, numa referência à história bíblica de Caim e Abel. O autor explica que gosta de se apropriar de mitologias cristãs para subverter o imaginário, especialmente pelo fato de o cristianismo ter se apropriado de diversas histórias pagãs.

Sobre a encenação
Para dar o tom da peça, a trilha sonora, criada pela artista paraibana Clara Potiguara, está presente em toda a encenação. As músicas são executadas ao vivo por ela – e algumas delas têm letras em Tupi-Potiguara. “Trouxemos ela de João Pessoa justamente para fazer esse trabalho único para a peça. O resultado ficou lindo e foi a estreia dela no teatro”, afirma o diretor.
O cenário confeccionado por Zé Valdir Albuquerque tem fundo e chão vermelhos. O destaque fica para uma IGAÇABA (jarro) de dois metros de altura que se descobre ser uma urna funerária e também a boca do canhão. Tanto os grafismos quanto os figurinos são feitos por Mara Carvalho. Haverá também projeções mapeadas desenvolvidas por Flávio Alziro MSilva.
“Meu teatro se define como contra-colonial, ou seja, tenho o objetivo de utilizar essa linguagem para devolver a dignidade para os corpos, línguas e culturas indígenas. Por isso, este espetáculo não quer servir ao colonizador e é totalmente falado em Tupi-Potiguara – apenas algumas partes têm legenda em português.”, comenta Nyn.
Serviço
espetáculo | TYBYRA – Uma Tragédia Indígena Brasileira
Até 6 de abril de 2025. Quinta a sábado, às 20h. Domingo, às 18h.
Local: Arte II (13º andar)
Duração: 60 minutos
Capacidade: 80 pessoas
Classificação indicativa: 16 anos
Ingressos: R$ 50 (inteira), R$ 25 (Meia) e R$ 12 (Credencial plena:). Venda de ingressos online a partir de 18/2, às 17h, e nas bilheterias das unidades a partir de 19/2, às 17h.
SESC AVENIDA PAULISTA
Avenida Paulista, 119, Bela Vista, São Paulo
Fone: (11) 3170-0800
Transporte Público: Estação Brigadeiro do Metrô – 350m
Horário de funcionamento da unidade:
Terça a sexta, das 10h às 21h30. Sábados, das 10h às 19h30. Domingos e feriados, das 10h às 18h30.