O RAP brasileiro é uma forma de dar voz aos que nem sempre são ouvidos. Desde o primeiro álbum brasileiro exclusivo de rap, o “Hip-Hop Cultura de Rua”, lançado em 1988 pela gravadora Eldorado e produzida por Nasi e André Jung, do grupo de rock Ira!, artistas como Thaíde e DJ Hum se tornaram conhecidos cronistas da vida na periferia através das rimas influenciadas por grupos como Rum D.M.C, Public Enemy e NWA. No começo dos anos 90, o rap, mesmo sem apoio das grandes gravadoras e da TV, viveu um boom de popularidade entre os jovens, com artistas como Racionais MC´s fazendo shows lotados em cada canto de São Paulo enquanto as mídias hegemônicas se permitiam ouvir Gabriel O Pensador, menos agressivo, mas ainda sim provocador.
Fizemos um compilado de 10 pedradas que precisam estar na playlist de rap de todo mundo que gostado gênero. A cronologia se limita até o ano de 2004. Outras listas virão.
1. Sr. Tempo Bom – Thaíde e Dj Hum
Thaíde e DJ Hum revisitam suas trajetórias que foi a mesma de todo adolescente negro descobrindo a música negra e o hip hop nos bailes blacks dos anos 70 e 80. Um beat deliciosamente viciante e um refrão inesquecível fizeram desse som um dos grandes hits da história do rap
Ano de lançamento: 1996
Álbum: Preste Atenção
O Trem – RZO
A São Paulo dos anos noventa, a trajetória dentro do transporte público, a falta de esperança do trabalhador periférico. Essa pedrada narra a labuta do proletariado desesperançado e maltratado. O RZO pode ser resgatado da memória através dessa faixa, que resume o poder do grupo ao retratar a vida do indivíduo marginalizado
Ano de lançamento: 1999
Álbum: Todos são Manos
O Homem na Estrada – Racionais Mc’s
O álbum “Raio X do Brasil”, segundo disco dos Racionais Mc’s tem o título autoexplicativo. Entre várias faixas pesadíssimas, “O Homem na Estrada” se destaca por mostrar em potência máxima a capacidade do grupo de escrever crônicas rascantes, sem pena de colocar o dedo na ferida. Falando abertamente sobre a tentativa de um ex-presidiário de se ressocializar, a faixa sampleia a música soul de Tim Maia “Ela Partiu”, e daí pra frente o Brasil precisou se olhar no espelho.
Ano de lançamento: 1993
Álbum: Raio X do Brasil
Mun-Rá – Sabotage
“O inimigo meu tem Astra, barca, Blazer, também tem moto”. Sabotage, com seu flow único e inconfundível, lembra nessa faixa quem são os adversários. A faixa, lançada em parceria com o Instituto um ano antes de sua morte, mostra um artista no auge da criatividade poética e da sagacidade ao pensar o contexto ao qual pertencia. “Eu sou um problema pra quem pensa que o rap é pra loki”, apontava na letra prevendo o que aconteceria com o estilo.
Ano de lançamento: 2002
Álbum: Uma Luz que Nunca Irá se Apagar
Sou Negrão – Rappin’ Hood
“Sou Negrão” faz parte de um disco que é irretocável. Nessa faixa em especial, Hood convidou a dama do samba Leci Brandão para fazer uma ode aos grandes pretos da história brasileira. A letra é um dicionário para quem quiser conhecer a história de alguns de nossos ancestrais. De Clementina de Jesus a Pelé, de Luther King a Jamelão, o samba rap tocou em todas as rádios e colocou muito nome esquecido na boca da galera.
Ano de lançamento: 2001
Álbum: Sujeito Homem
Soldado do Morro – MV Bill
MV Bill contou qual era a rotina de um integrante de facção, sem censura, sem romantizar: “Várias vezes me senti menos homem/ Desempregado e meu moleque com fome/ É muito fácil vir aqui me criticar/ A sociedade me criou, agora manda me matar”. A voz grave, o boombap bem marcado trazem a sensação de urgência, como se o ouvinte estivesse no lugar do eu-lírico. Obrigatória.
Ano de lançamento: 1999
Álbum: Traficando Informação
Cachimbo da Paz – Gabriel O Pensador
Advindo da classe média carioca, Gabriel O Pensador entendeu que seu lugar no rap não seria emulando uma narrativa que já estava sendo contada por artistas que vinham da favela. Com isso em mente, usou sua passabilidade para emplacar em todas as rádios e programas de TV um manifesto pela legalização da maconha. Muita gente não entendeu na época, mas a mensagem estava dada e o rap chegou a lugares que ainda não havia chegado.
Ano de lançamento: 1998
Álbum: Quebra Cabeça
O Amor Venceu A Guerra – GOG
GOG é um baita escritor. Aqui ele contrapõe a vida de um trabalhador cooptado pelo tráfico, mas que encontra no amor uma possível salvação. “É bem mais fácil guardar rancor/ É bem mais fácil que dizer que perdoou/ Dá mais ibope, chama a atenção/ Mas faz mal pro coração né, não?”. A levada soul das guitarras dedilhadas e a voz rouca nos transportam para um cenário nostálgico, ainda que violento.
Ano de lançamento: 2004
Álbum: Tarja Preta
Dia de Visita – Realidade Cruel
Ser a voz de parte das aflições da população carcerária sempre foi uma das missões do rap nacional. A canção Dia de Visita, do grupo Realidade Cruel, é o arrependimento angustiado de um detento. A base construída em cima de “Please Don´t Go’, da Kc and The Sunshine Band cai bem no tema da canção.
Ano de lançamento: 1998
Álbum: Só Sangue Bom
Mister Niterói – Black Alien
“Entre pobres nobres e os ricos esnobes/ Eu não vou apertar a mão de quem quer que seja/ O lobby não é meu hobby”. Poucos rappers expuseram seus demônios e suas convicções como Black Alien. Em “Mister Niteroi”, o rapper abalou a cena com suas rimas sagazes e visão afiada de si mesmo e da realidade. Uma pérola entre outras pérolas, já que é difícil destacar uma única faixa de um álbum do quilate de “Babylon by Gus”
Ano de lançamento: 2004
Álbum: Babylon by Gus Vol I – O Ano do Macaco