Quem olha as redes sociais da multiartista Fernanda Luz se depara com uma energia inesgotável e um carisma singular. A pernambucana sempre parece disposta a defender suas origem ribeirinha, semiarindense e vem fazendo isso a mais de 15 anos, destacando a importância da Arte na vida das mulheres. A força do canto da artista pode ser conferida no álbum “Sotaques”, do projeto Filhos da Terra Sol, produzido ao lado de Léo Andrade. O trabalho chegou ao mundo no dia 27 de março.
O disco abre respirando Chico Science e Nação Zumbi na roqueira “PeBa”, que conta com os riffs certeiros de guitarra de Edésio César. “Eu sou semiaridense/ filha do meu sertão/Bula não, que eu tô queta/Sou criada no feijão”, dispara a letra na levada rock/repente.
“Sotaques” conta com a participação do sanfoneiro Ivan Greg, de Mestre Alberone rabequeiro e Dona Severina Mestra de Coco, temperando o canto poderoso de Fernanda Luz.
A caprichada banda que a acompanha nas apresentações é formada por Daniel Nascimento (contrabaixo),
Carlos Hiury (contrabaixo), Aislan Santos ( Percussão), Léo Andrade (violões e viola caipira), Eduardo Vieira (bateria) e Ramon Araújo na percussão.

Carlos Hiury, Aislan Santos Percussão. À esquerda: Léo Andrade, Eduardo Vieira e Ramon Araújo
O canto de Fernanda, assim como toda sua expressão artística e de vida é uma ode à vida longe do que se convencionou chamar de grandes centros. Formada em Dança Pela UFBA, cantora, compositora, produtora, arte-educadora, ela atua no Teatro, cinema, e musicais, com todos esses múltiplos talentos se fazendo valer em suas apresentações ao vivo, onde, sempre acompanhada do afiado grupo de músicos, constrói um nome de respeito na cena local. Fernanda venceu o Prêmio da Música de Pernambuco na categoria Melhor de Cultura Popular com seu primeiro disco solo “VENTRES SAGRADOS”. em evento realizado no dia 1 de abril.
“Meu coração pinotou feito guria réa quando recebi essa notícia! Só a gente sabe as esquinas que atravessamos todos os dias”, comemorou a cantora. “Nada se faz sozinha! Parabéns a todas e todos que fizeram parte desse momento!”
“Ventres Sagrados” foi lançado em outubro de 2024 pela produtora Opará em parceria com a Casinha Encubadora, e gravado em homenagem ás mulheres da vida de Fernanda, suas antepassadas e as Mestras da cultura popular da sua Região que são referências no seu caminhar e a todas as outras que inspiram outras a serem o que desejam ser. A reverência da cantora fica explícita na percussiva “Vó”, canção que evoca a memória de Dona Moça, sua vó, que foi mãe solo assim como sua mãe e que trouxe a força do Axé e a conexão com os tambores na sua vida, e assim as demais canções vão destrinchando esse caminho.
“Minha avó Dona Moça, Minha Mãe Dona Linda, Dona Amélia do Quilombo Samba de Veio da ilha do Massagano de Petrolina-PE, Dona Flora Yalorixá, do Terreiro Onyndacor, Juazeiro-BA, Claudia Truká, de Cabrobó-PE, Dona Severina, uma das primeiras sambadeiras de Coco do Pernambuco da cidade Arcoverde, Ana das Carrancas, artesã referência na cidade de Petrolina-PE, Zenilda Xukuru Pajé, do povo Ororubá Pesqueira-Pe, todas essas mulheres são de grande importância na minha formação de artista e jamais posso perder a oportunidade de homenagear todas essas mulheres, que fazem parte desse sonho de gravar minhas músicas em disco”, declara Fernanda.

Assim como muitos artistas que tornam dores e tristezas um motor para sua criação, Fernanda Luz tranforma sua vivência, mesmo as mais dolorosas, em poesia. “Corpo Livre”, faixa de “Ventres Sagrados”, é delicado e doloroso desabafo sobre a violência sexual que a artista sofreu na infância. “As paredes carcumidas guardam versos da criança que cresceu/ O tempo passou/O medo correu/ Janela soprou/ Hoje, quem sou eu?”, pergunta o eu-lírico angustiado.
“A ferida e a cura feita a partir do movimento na arte. A dança me trouxe o movimento da dor, na voz que não conseguia sair, o teatro me trouxe a escuta e a leitura do que sentia e a música foi o resultado dessa caminhada, mesmo desde pequena já cantando”, conta.
Nesse álbum duas canções foram premiadas, “Sonhos” no Festival Nacional de Minas Gerais o FENAC e no Festival Edesio Santos da Canção na Bahia e a música “Emancipação” recebeu dois prêmios no Festival Geraldo Azevedo na Cidade de Petrolina-PE.
“Meus feitos trazem uma carga regional, o cuzcuz na capa, a bacia, o mandacaru, a coroa de frade, a estampa na saia, a carranca, o Ipê Amarelo tudo foi alimento, imagem vivida desde a infância da Artista Luz”,conclui Fernanda.