Após quase dois anos sem lançar um álbum solo, a rapper e compositora Ebony retorna com um trabalho que marca nova fase na carreira: mais pessoal, introspectiva e corajosa. Intitulado KM2, o disco faz referência à cidade natal da artista, Queimados, na Baixada Fluminense, que ela e seus amigos costumavam chamar de “K-M-Dois”. O projeto mergulha fundo em temas como identidade, vivências periféricas, dores e superpoderes, construídos a partir da complexidade de ser uma jovem mulher negra em um mundo que insiste em colocar tudo e todos em caixas.
“Esse álbum vem da minha vontade de parar de me esconder”, explica Ebony. Segundo ela, o desejo surgiu após perceber que vinha sendo constantemente reduzida à persona hiper sexual que criou durante o processo criativo de “Terapia”, seu trabalho anterior. Em “KM2”, o que se apresenta é uma busca por mostrar – não apenas falar – a verdade. “Não é um álbum feliz. Mas também não é triste. É um chocolate meio amargo.”
Com participações de Black Alien e Larinhx, o disco percorre uma narrativa sonora e emocional sobre a juventude na periferia, a cacofonia das ruas, as projeções externas sobre corpos negros e as perguntas que a juventude da Baixada se faz diariamente. “Esse álbum é sobre a vida que eu tive, a vida que eu tenho e a vida que eu busco”, resume a artista.
O processo de criação foi, em grande parte, solitário. Todas as letras são assinadas por Ebony, que também é compositora de outros artistas. “Nesse projeto, em especial, tinha que ser eu. Estava escrevendo e, ao mesmo tempo, me descobrindo. Isso me fez quase excluir músicas que julgava pesadas demais. Mas entendi que era sobre mim, sobre minha história.”
Ao longo das faixas, Ebony transforma em poesia temas como traumas, abuso sexual, feminilidade, autonomia, família e sonhos. Com uma escrita afiada e potente, ela se propõe a reiterar perguntas que, por mais incômodas ou repetidas que sejam, precisam continuar sendo feitas para que novas respostas possam surgir.
“Espero que quem ouça ‘KM2’ se sinta confuso e acolhido. A confusão também é um sentimento importante. A gente sempre busca estar feliz ou triste, mas e tudo que existe no meio?” -indaga a artista.