Ontem (26), foi a estreia da turnê “Dominguinhos”, parceria de João Gomes, Mestrinho e Jota.Pê. Os amigos subiram ao palco da Casa Natura Musical pontualmente às 21h. O espaço lotado era reflexo da disputa por ingressos, que se esgotaram poucos minutos após o anúncio do espetáculo nas redes sociais.
O encontro foi gravado no Sítio Histórico de Olinda e contou com 12 faixas. No total, o projeto ultrapassou 20 milhões de plays e emplacou 8 músicas no Top Viral Brasil das plataformas digitais.
A noite de temperatura amena era propícia para o que viria nas pouco mais de 1h30 de show. Acontece que o projeto “Dominguinhos” já nasceu vencedor: poucos dias após o lançamento, acumulava milhões de plays nas plataformas — não apenas pelo peso dos nomes de João Gomes, Jota.Pê e Mestrinho (vencedores do Grammy Latino), mas pela qualidade inquestionável do trabalho, que mistura clássicos do forró com composições inéditas e até uma versão surpreendente de “Pontes Indestrutíveis”, do Charlie Brown Jr.
“Eu estava num momento meio depressivo e decidi ligar o rádio. Quando tocou a música do Charlie Brown, me senti melhor. Liguei pro Mestrinho e pedi uma versão. Insisti muito, e depois de um tempo, nasceu essa releitura”, contou João Gomes.
O público recebeu os cantores com aplausos e gritos entusiasmados. Ao primeiro timbre da sanfona de Mestrinho em “Lembrei de Nós”, ficou claro que a simbiose entre artistas e plateia já estava perfeita.
O cenário — com casinhas típicas do interior nordestino, o entardecer e uma lua cheia projetada ao fundo — reforçou o clima intimista e a amizade nítida no palco. O trio parecia genuinamente divertido e, em vários momentos, surpreso com a recepção calorosa.
“O tempo de ensaio foi corrido, cada um com seus compromissos. Sabíamos que seria difícil nos juntar, mas tínhamos uma mensagem pra passar — e ela sempre positiva”, disse João Gomes.
Em “Beija-Flor”, com vocal de Jota.Pê, até a equipe de segurança, fotógrafos e funcionários do bar cantavam junto.
Em comovente momento solo, Jota.Pê cantou o hino à autoestima preta “Ouro Marrom”, não antes sem um pedido de João Gomes para que o público prestasse atenção à canção.
João Gomes é uma das figuras mais carismáticas da música brasileira recente. O pernambucano não disfarçava a admiração pelo vocal preciso do paulista Jota.Pê e pelo virtuosismo do sergipano Mestrinho.
Jota.Pê, estrela ascendente da MPB, falou sobre mergulhar no forró em um projeto grandioso:
“Minhas maiores referências vêm do Nordeste: Lenine, Gonzaga, Dominguinhos. Participar disso é um sonho. É histórico ver artistas da nossa geração construindo algo assim.”
Apesar da lotação, casais dançando apareciam entre o público. O clima de baile, festa junina e fogueira transformou São Paulo num pedaço poético do Nordeste. Se existe alma, Dominguinhos e Luiz Gonzaga certamente estavam ali.
Mestrinho refletiu:
“Manter o forró vivo é uma responsabilidade, mas também um amor. Não vemos como peso; fazemos com respeito. Renovamos a tradição, falando do cotidiano atual.”
Improvisos ganharam espaço no setlist, com João Gomes pegando o violão para homenagear Dominguinhos e Edson Gomes — este último, citado como desejo para uma segunda parte do projeto.
O forró raiz — ou, como definiu João Gomes, “o forró de letra” — ganhou um capítulo que pode marcar a retomada do gênero além do Nordeste.
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Última atualização em: 28 de maio de 2025 às 16:06
Jornalista especializado na área de cultura. Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Guarulhos (UNG), já escreveu sobre música, cinema, literatura e política para Mídia Ninja, Trace Brasil, Site Mundo Negro e Leia Já.
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