As vivências da infância na Zona Leste de São Paulo às íntimas orações oferecidas pela sua avó, Felipe Parra entrega um pouco do seu mundo em 11 faixas de ‘Conversas Imaginárias’. O segundo álbum autoral do multi-instrumentista contou com a colaboração de mais três produtores, Patrício Sid, Pedro Vituri e Diamusiq, além de faixas assinadas pelo próprio cantor. “Fazer música é minha autoterapia. Passo muito tempo produzindo e compondo sozinho, então é inevitável a gente falar consigo mesmo, ter pensamentos altos e às vezes até conversas imaginárias. O meu trabalho é reflexivo, emocional e traz um pouco desses devaneios solitários com canções envoltas nas batidas de boombap. Um disco de rap para Cassiano cantar”, explica Parra.

Confira o faixa a faixa
Quebranto – Lançada no ano passado, a faixa foi a segunda prévia do disco que tem em seu conceito entregar uma síntese entre a musicalidade popular (canção) e as batidas do rap de periferia. A letra vem com uma melodia ritmada como um flow, enquanto violão e elementos percussivos orgânicos unem-se a um beat de boombap. Ao apresentar uma troca de ideia sobre questões sociais e do dia a dia, o autor nos embala em um baile meio anos 70 com Hyldon e Tim Maia, em uma roupagem moderna, fruto da pós-produção assinada pelo próprio artista. Uma sonoridade acessível e cheia de referências rítmicas.
Não Me Importo Mais – Uma canção de amor, sobre final de relacionamento e início de novos ciclos. A faixa segue uma linha mais Cassiano, com beat bem marcado e participação da cantora Edyelle Brandão. Sua contribuição nos vocais revelou uma perspectiva feminina da narrativa foco e transforma a música em uma soul music bem brasileira, entoada pelo beat old school. Mais uma produção própria que mescla sonoridades atuais e antigas, soando algo que desafia a cronologia.
Racionalmente – A faixa foco do álbum conta com participação do rapper Uterço e faz reflexões sobre os caminhos da vida, questionamentos sobre o lugar que os artistas ocupam na sociedade e as dificuldades em ser músico. Com estética lo-fi endossada pelo trompete de Pedro Vituri, a canção surgiu após uma audição do disco novo do Curumin e foi ganhando forma emocional, consolidando uma convicção de que vale a pena continuar seguindo o caminho da arte. Destaque para as linhas apresentadas por Uterço, com um beat marcado, um diferencial rítmico da track.
Sigo Sonhando – Praticamente um auto incentivo, a canção, com produção de Patrício Sid, estimula tanto o eu lírico como outras pessoas a seguirem seus objetivos na música. A linguagem do hip hop segue presente tanto nos questionamentos da letra quanto no beat chill hop. Uma homenagem aos poetas disfarçados de trabalhadores e aos fazedores de cultura, nem sempre aplaudidos. Uma canção para reacender sonhos adormecidos.
Sorriso Dela – Uma love song com ares de paquera, pronta para ser enviada para os contatinhos. Inspirada nos bailes dos anos 70, ela tem um toque latino e de brasilidades. A música contou com a participação do mestre de carimbó Silvan Galvão, que comandou a percussão com conga, shaker e curimbó. O resultado remete a nordestinidade do co-homenageado do disco. Com produção do próprio Felipe Parra, a declaração de amor traz ao ouvinte toda a admiração do artista pelos seus ídolos musicais, Cassiano e Hyldon, em forma de canção.
Otimista – Foi o primeiro single lançado como prévia do álbum ‘Conversas Imaginárias’. Com produção de Patrício Sid, a faixa tem uma estética bem lo-fi, com violão e várias camadas sonoras no beat. O início do processo criativo da música foi a imagem de um garoto sentado na calçada que despertou um gatilho positivo no artista, que passou a lembrar de toda sua trajetória e como precisou de si mesmo para superar todas as dificuldades. O refrão “Se não eu quem vai falar por mim”, deixa aquele conselho com bom senso e precisão.
Escorpião – Abrindo um bloco mais rap do disco, a faixa foi produzida em colaboração com o baixista Wesley Rodrigo. Conhecido por tocar com Luedji Luna, Jota P, entre outros grandes nomes, o músico fez toda a base instrumental, desenhando um rap jazz acessível e popular. Entre efeitos de synth analógicos antigos e muitas linhas de baixo, as vozes de Parra e Edyelle Brandão discorrem sobre a busca constante por respostas e caminhos, abrindo a possibilidade de apenas seguir.
Arritmia – Após um diagnóstico de arritmia, Felipe Parra refletiu sobre sua própria história em uma letra escrita de uma só vez. No fluxo de consciência e atento às batidas do seu coração, as ideias pousaram sobre o beat sampleado por Rodrigo Tuchê (Rashid) que diz: “De muita coisa que sinto””. O resultado é um rap que ilustra muito bem o conceito do álbum, de transformar questionamentos e conversas interiores em música.
Inconsciente – Criada entre devaneios entre consciente e inconsciente, a letra reflete sobre barreiras da mente e foi feita de forma inusitada. Antes de ouvir a base feita pelo produtor Diamusiq (Tássia Reis, Bia Ferreira, Mel Duarte), a inspiração bateu e, ao ouvir o beat, as linhas se encaixaram perfeitamente na harmonia. Com uma estética urbana, a faixa transforma o mundo dos sonhos em rimas e melodias.
Sem Saída – “Faltava tão pouco para a gente se entender, viver a vida como tem que ser” é o refrão que sintetiza o mood dessa canção. Lembrando os hits da Flora Matos, Felipe Parra “compra a briga” das repetições, em um beat pesado do Diamusiq. A experiência de estar quase atingindo um objetivo leva o ouvinte pela track, com flow cheio de referências do atual rap nacional.
Benção (Quebranto) – Rebatizada de Benção (Quebranto) a música conta com uma oração de sua avó benzedeira e vem como uma faixa bônus do álbum. A versão acústica foi re-orquestrada por Felipe Parra e por Pedro Vituri, com elementos orgânicos de percussão, violão, trompete e flauta. Os arranjos aproximam o ouvinte da letra em momentos de concentração e reflexão.