Da resistência à cultura: o simbólico encontro entre os navios negreiros e o reconhecimento da cultura africana no Brasil inspirou Majur a criar “Gira Mundo”, seu mais novo álbum de trabalho, já disponível em todas as plataformas de streaming. O disco, com 16 faixas em iorubá, explora uma estética afropop contemporânea e se destaca pelo uso de instrumentos orquestrais, como piano, baixo acústico, clarins e atabaques. Sob direção musical baiana de Ícaro Sá e Ícaro Santiago, a cantora e compositora homenageia, em cada música, uma força da natureza — os orixás, como são conhecidos no Brasil — com cantigas e mensagens.
Para Majur, o disco vem com a proposta de reconhecer as origens brasileiras. “Voltar aos navios negreiros é resgatar a cultura africana no Brasil colonial. É entender com profundidade essa diáspora tão presente e, ao mesmo tempo, tão silenciada. O candomblé surgiu como um ato de resistência, pois o nosso país não aceitava outras culturas e crenças. Quero, portanto, retornar esse contexto histórico e o reapresentar através de uma nova narrativa com elementos futuristas e atuais da nossa história. Afinal, eu acredito que o Brasil é um país plural e miscigenado, e reconhecer a cultura afro-brasileira — sem preconceitos ou demonizações — é essencial para valorizar a nossa própria identidade”.

Gravado na Bahia, o novo álbum de Majur tem como faixa foco “Iroko”, que significa, tempo, no candomblé, a passagem das gerações e a força da natureza. “Estou usando o tempo para demarcar a cultura no Brasil sob outro olhar, sob outra narrativa. Por isso, eu escolhi a música principal do álbum como Iroko. Já que o tempo está acima de todas as coisas e abaixo de Deus”, explica Majur. “Oxumaré e Ewá”, “Ibeji” e “Oxalá” (última música da tracklist) são outros três destaques do disco.
“Gira Mundo” é o desfecho de uma trilogia, que amadureceu após um período de quase cinco anos. Em seu primeiro disco de trabalho, “Ojunifé”, Majur abre a tracklist do álbum com a música “Agô” e diz, em iorubá: “Lati Kori Agbara dos Orixás”, que significa: “eu canto o poder dos Orixás” representando a sua iniciação no candomblé. “Eu estava me reconhecendo e me conectando à religião, inclusive dentro de mim. Era um processo de lagarta ainda”, diz ela, que em 2023 lançou “ARRISCA”, seu segundo álbum da carreira, com uma mensagem de coragem e fé para se jogar no mundo.
Já nesse terceiro ato, Majur não quer só mostrar a sua potência musical, mas sim quer desmistificar os preconceitos associados à sua crença. Tanto que no visualizer de “Gira Mundo”, a cantora convida o público a conhecer como é um dia no terreiro e como ela se conecta aos ancestrais, seus orixás. Despida de qualquer vaidade, Majur mostra a cultura africana no Brasil e o poder da fé, em meio a tempos de incerteza. “Apesar de evidenciar a intolerância religiosa e o racismo no Brasil, esse álbum não é sobre religião. É sobre recontar a nossa história nos tempos de hoje. É sobre transformação e conexão, informação para o povo, sem mais”, conclui a artista.